Iniciei minha carreira na área de Segurança do Trabalho em uma das maiores fundições do Brasil, na região do vale do rio Paraíba do Sul.
Para um profissional da área, o processo de fundição de peças automotivas de ferro é muito rico, pois não faltam atividades e riscos. Agentes físicos e químicos, riscos ergonômicos e de acidentes são encontrados em quase todas as etapas do processo e trazem enormes desafios.
Naquela época, os Programas de Proteção Respiratória e de Conservação Auditiva tinham sido implantados com sucesso e um grande investimento havia sido feito com a aquisição dos novos respiradores de silicone, com os treinamentos e todo o processo de divulgação.
As coisas estavam tranquilas durante aquele turno e, após fechar uma série de trabalhos burocráticos que faziam parte de nossa rotina, parti para uma ronda “sem destino” pelas áreas de produção.
Caminhava pela área de Acabamento de fundidos, onde as peças passam por várias etapas, desde a quebra de canais, jateamento abrasivo, desbaste com ferramentas pneumáticas, pintura e oleagem, no meio de um trânsito intenso de empilhadeiras que faziam a movimentação de peças e caçambas.
Em certo momento, depois de conversar com o Supervisor da área, parei ao lado de uma das linhas de Acabamento, a fim de observar o comportamento dos funcionários e suas reações com os novos equipamentos de proteção individual que utilizavam.
De repente, notei uma coisa bem peculiar!
As lentes dos óculos de um dos rebarbadores não refletiam a luz das luminárias. Estranho!!!!
Comecei a me aproximar e reparei que ele havia tirado as lentes de seus óculos de rebarbador, trabalhando apenas com a armação.
Imediatamente sua atividade foi interrompida e conversando com ele, disse-me que havia tirado as lentes, pois embaçavam demais com o novo respirador, atrapalhando-o.
Como de praxe, o caso foi levado ao Supervisor da área, apelidado de Baiacu, que depois de muitos anos fazendo poucas e boas com Segurança do Trabalho, estava se redimindo e buscando tornando-se um “padrão”.
Óbvio que viu neste caso a oportunidade de aplicar seus novos conhecimentos e chamou o funcionário, seu Encarregado, o Representante da CIPA da área e eu para uma reunião, onde iria tratar do assunto e falar da importância do uso correto dos EPIs.
Começou com um longo discurso filosófico, empolgando-se e lá pelas tantas disse:
“... eu até aceitaria se tivesse sido uma FAIA TECA, mas uma FAIA HUMANA dessas não aceito na minha área...”
Resultado: depois desta pérola, a reunião acabou.
Texto publicado na Revista Proteção nº 309, de Setembro/2017